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Projetos onde gênero, clima e oceanos se encontram

ELABORAÇÃO: Jamille Nunes
PUBLICADO EM: 27 de setembro de 2021

Em encontro virtual entre GTs do Observatório do Clima, mulheres expõem intersecção entre gênero, clima e oceanos.

Narrativa Shanenawa

Ao falar de oceano e sua relação com o clima, algumas imagens se destacam no imaginário, a maioria delas envolvendo animais afetados pela ação humana. Mas as mudanças causadas no oceano afetam também a todas as pessoas, independentemente de onde elas estejam ou como sejam. 

O oceano nos provê benefícios em qualquer lugar do mundo que estejamos“, lembra Mariana Andrade, em um encontro virtual de mulheres dos GTs de Gênero e Clima e também de Oceano, do Observatório do Clima. “Reconhecer o oceano em nós e reconhecer a gente no oceano é “cultura oceânica”. É se conectar com ele morando próximo ou não da costa.”

Mariana adverte que um aspecto que aproxima os dois âmbitos – oceânico e climático – é a discussão de gênero. Embora as mulheres sejam peças-chave nas reflexões, pesquisas e soluções das crises em ambas as áreas, seus esforços são invisibilizados.

Por isso, momentos de aproximação como esse são tão importantes: servem também para reconhecer o que já está sendo feito. Neste encontro foram apresentadas algumas iniciativas que trabalham para conectar o oceano e o clima com atividades e projetos realizados por e para mulheres. Confira a seguir.

Mães do Mangue: manguezais como proteção ao aquecimento global

A campanha Mães do Mangue, realizada junto às comunidades costeiras do Pará, território onde está a maior área contínua de manguezais do planeta, mostra a importância dos mangues no controle das mudanças do clima. Seu ponto de partida são as histórias de vida das mulheres extrativistas e de suas famílias, que têm o ecossistema como lugar de orgulho e pertencimento.

Lígia Oliveira, da Purpose, uma das responsáveis pela campanha, explica que a ideia enfrentou alguns desafios. “Havia barreiras físicas: o manguezal é um ecossistema distante das pessoas. E as barreiras imaginárias: na cabeça das pessoas, o manguezal é um ambiente sujo, e elas não vêem conexão com a Amazônia. Ainda por cima, quando imaginam alguém coletando mariscos, vem a imagem de um homem.

Para fortificar uma visão positiva da vivência das mulheres no manguezal, as histórias focaram na importância da proteção do manguezal e também nas lideranças locais, para que sejam referências para a mídia ao falarem da Amazônia. A relação entre as comunidades e reservas extrativistas também foi estimulada, uma vez que as comunidades compartilham desafios semelhantes na conservação de ecossistemas marinhos e costeiros.

Dessa campanha, floresceram um sentimento de comunhão e de rede, minidocumentários e o livro “Cozinha da maré”, com receitas originárias dos manguezais. Com pratos, depoimentos e histórias, a publicação traz a memória alimentar e afetiva das mulheres extrativistas da região.

Liga das Mulheres pelo Oceano

A bióloga e conselheira da Liga das Mulheres Pelo Oceano, Natalia Grilli, também trouxe a trajetória da organização, nascida em março de 2019. Ainda que recente, a rede cresce a cada ano e abriga cada vez mais mulheres.

Em seus dois anos, já lançou campanhas digitais como o “Nossa Praia, Nossa Responsabilidade”, referente ao misterioso vazamento de óleo na costa nordestina; e mobilizou atletas de modalidades como natação, vela, surf, mergulho e vôlei para a campanha “A Gente Liga para o Oceano”, em um alerta sobre a poluição por lixo no mar.

Em uma abordagem mais artística, também trataram de temas não tão óbvios relacionados ao oceano e clima, como moda, alimentação, na campanha “Sente o clima e mergulhe nessa onda”. Fizeram episódios de podcasts, bate-papos com celebridades como Fernanda Lima, lambes e figurinhas de Whatsapp.

A Liga, atuando nas áreas de ciência, política e comunicação, integra esforços pela conservação do oceano e pela emancipação das mulheres. “Muitas vezes, as mulheres que promoviam trabalhos de conservação eram desconsideradas ou invisibilizadas nas divulgações”, lembra Natalia.

 Vozes do Mar: mulheres pescadoras

Graziela Blanco, da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, trouxe o projeto Vozes do Mar, para expandir e conectar vozes das pescadoras para enfrentar as mudanças climáticas.

Outro de seus objetivos é conectar as mulheres pescadoras de todas as regiões costeiras do Brasil, e assim fazer uma rede para a troca de experiências e aumento do alcance das dificuldades frente às mudanças climáticas e desigualdade de gênero.

Um trabalho em rede facilita o compartilhamento de saberes, uma vez que mulheres pescadoras têm desafios semelhantes e podem se auxiliar.

O projeto vai até 2022 e está em 4 regiões costeiras do Brasil. Atualmente, por conta da pandemia, essa rede de pesquisadoras, pescadoras e marisqueiras desenvolve suas estratégias e soluções virtualmente. E para quem quiser se envolver, ainda é possível contribuir com o projeto.

 

Você já conhecia esses projetos envolvendo mulheres, clima e oceano? Conhece outros? Conta para a gente em generoeclima@oc.eco.br.

“Este conteúdo não representa, necessariamente, a opinião do Observatório do Clima ou de qualquer um de seus membros.”

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